Qual o efeito da gordura no risco maior de pacientes obesos com covid-19

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Nós já sabemos que os idosos não são único grupo de risco do coronavírus. Pessoas com pelo menos um fator de risco associado, a chamada comorbidade, também estão mais propensas a desenvolver os sintomas mais graves da doença e morrer. As principais são hipertensão, diabetes, doenças coronarianas e vasculares cerebrais.

O que pouco se fala é que muitas dessas condições estão intimamente ligadas a outra epidemia, que afeta muitos países do mundo, inclusive o Brasil: a obesidade.

Eu sou Luis Barrucho, da BBC News Brasil aqui em Londres, e neste vídeo eu vou explicar por que obesidade se transforma em um fator de risco para o coronavírus, e também como o Brasil é afetado por isso.

Antes de mais nada, é preciso lembrar que a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e
hipertensão.

Além disso, alguns estudos indicam, por exemplo, que pessoas obesas têm três vezes mais risco de ter diabetes. Vamos então à explicação científica: segundo médicos, o excesso de peso causa um estado de inflamação crônica no corpo — isso afeta o funcionamento das células e de suas superfícies, o que interrompe sua função natural de barreira protetora e facilita o ataque de vírus como coronavírus.

Os quilos extras também têm efeitos negativos na nossa imunidade, ao reduzir a produção de proteínas vitais que compõem o nosso sistema imunológico, que defende o nosso corpo contra possíveis infecções.

Além disso, quem sofre de obesidade severa pode ter os pulmões
afetados para respirar normalmente, ou mesmo sofrer de apneia do sono e problemas reoxigenação — e, como sabemos que o coronavírus ataca os pulmões, as pessoas nesta situação tendem a sofrer mais.

Isso sem falar que estudos sobre os efeitos da obesidade em pacientes com gripe indicam que esse fator de risco pode prolongar o tempo que os vírus permanecem em seus corpos.

Uma consequência disso é que, se alguém fica com vírus por mais tempo no corpo, pode contagiar mais pessoas, e pode acabar precisando de internação também e por mais tempo.

Médicos dizem que a mesma lógica poderia ser aplicada ao coronavírus — ou seja, são pacientes que podem passar dias ou até semanas tentando combater uma infecção.

Além disso, um estudo recente mostrou que o coronavírus “sequestra” a ação de um receptor específico da parte externa das células, que está presente em órgãos como os pulmões e o coração.

Esse receptor, conhecido pela sigla ECA2, que a enzima conversora da angiotencina 2, está associado à produção de uma substância importante para regular a pressão do sangue: a angiotensina.

Só que o nível dessa enzima é aumentado em pacientes com hipertensão e diabetes, o que facilitaria a entrada e a infecção do novo coronavírus neles.

Mas como o Brasil poderia ser afetado? 1 em cada 5 brasileiros, ou 19,8%, é obeso, segundo o Ministério da Saúde. Além disso, mais da metade da nossa população, 55,7%, têm sobrepeso.

De acordo com o órgão, houve um aumento de quase 70% no número de obesos nos últimos 13 anos passando de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018.

O parâmetro para avaliar a obesidade e o excesso de peso é o Índice de Massa Corporal, o IMC.

A conta é a seguinte: você divide o seu peso pela sua altura ao quadrado, ou seja, divide o seu peso pela sua altura multiplicada
por ela mesma. Achou difícil ? É ruim de matemática? Tá estudando pro Enem?

Eu vou te dar o meu exemplo aqui: eu tenho 1,74 de altura e o meu peso é 72 kg, pré-quarentena, então 72 / 1,74 x 1, 74 chegamos ao resultado de 23,8.

Calculou o seu? Então dá uma olhada nessa tabela aqui na tela:
de acordo com essa tabela, o meu IMC é considerado normal. Se o seu IMC é superior a 25 e inferior a 29,9, então você está com sobrepeso, e se for maior do que 30 você está obeso.

Agora, vamos aos dados do coronavírus segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Aproximadamente 7 em cada 10 brasileiros que morreram da doença apresentavam pelo menos um fator de risco associado.

A obesidade por si só não foi o principal fator de risco para pacientes acima de 60 anos, grupo que compõe a maioria dos mortos, embora apareça na lista de comorbidades.

Cardiopatia, ou seja, problema no coração, foi a condição mais prevalente ligada às mortes investigadas. Em segundo lugar vem a diabetes, seguida por quadros de pneumopatia e doenças neurológicas.

A obesidade aparece em sétimo lugar. Já entre aqueles com menos de 60 anos a história é diferente: as comorbidades mais predominantes foram, nesta ordem, diabetes, cardiopatia e obesidade.

Nos Estados Unidos, o país que lidera o ranking mundial de obesidade, um número considerável dos mortos por covid-19 é obeso.

Para vocês terem uma ideia, a taxa de mortalidade em Nova Orleans, onde grande parte da população é obesa, é duas vezes maior do que em Nova York.

No México, que ocupa a vice-liderança no ranking mundial de obesidade, a situação não é muito diferente.

Por isso que as autoridades mexicanas fizeram um apelo específico para que pessoas com obesidade ficassem em casa. Lá, não há toque de recolher ou quarentena obrigatória.

No ano passado, um estudo global mostrou que a má alimentação é responsável por mais mortes do que qualquer outro fator de
risco, incluindo o hábito de fumar.

Esse levantamento analisou os hábitos alimentares de 195 países do mundo entre 1990 e 2017. O Brasil ficou na 50ª colocação como o país com mais mortes relacionadas à má alimentação, o que
provoca doenças cardiovasculares, cânceres e diabetes tipo 2.

Especialistas dizem que essas doenças vêm afetando cada vez mais gente devido à ingestão dos produtos ultraprocessados e à falta de políticas públicas para impedir esse consumo.

Mas eles também fizeram uma ressalva importante: temos que lembrar que nem todos nós temos acesso a alimentos saudáveis, especialmente os mais pobres.

Para finalizar, quais recomendações os médicos fazem aos obesos?
Além daquilo que já sabemos, ou seja, lavar as mãos e manter distância de outras pessoas, os obesos devem tomar medidas extremas de prevenção por causa do seu sistema imunológico, que pode ser mais fraco.

A orientação é que essas pessoas sigam uma dieta que contribua para aumentar suas defesas e tentem se manter ativas em casa, se exercitando por pelo menos uma hora por dia.

Eu mesmo fiz um vídeo para o nosso canal aqui no youtube sobre quatro dicas de alimentação para manter a sua imunidade em dia, dá uma olhada lá.

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